Cerca de 70% dos brasileiros possuem smartphone e acesso à internet e navegam na rede 9 horas diárias. Mas a penetração e a eficiência do e-commerce nacional estão bem abaixo de outros países
Mesmo o Brasil sendo um país conhecido pela má qualidade e alto preço dos serviços de telecomunicações, o consumo digital do brasileiro está em expansão. E os consumidores estão sedentos pelas transformações digitais do varejo.
Entre 2008 e 2017, o núumero de usuários de internet saltou de 34% para 67% da população. Diariamente, o brasileiro passa nove horas, em média, pregado à internet –tempo maior que chineses, americanos e europeus.
O acesso também está mais móvel. Hoje, cerca de 70% da população possui smartphone.
Os dados foram compilados e analisados no estudo Brazil Digital Report, conduzido pela consultoria americana McKinsey em parceria com a Brazil at Silicon Valley.
Embora as informações isoladas não representem tanta novidade, os indicadores analisados em conjunto atestam o potencial de mercado e os desafios que possuem as empresas que atuam com economia compartilhada, serviços de entregas e sistema de pagamentos –segmentos que crescem acima da média da economia nacional.
Por exemplo, o internauta brasileiro típico é urbano, tem menos de 45 anos e se situa entre as classes entre A e C com acesso móvel.
No entanto, a distribuição do acesso digital é desigual, de moda similar ao que se observa na renda da população.
Quase a totalidade (94%) dos brasileiros com renda mensal superior a 10 salários mínimos (R$ 9.980) possui acesso à internet. Já entre os consumidores que ganham até um salário, a penetração é de 51%. Detalhe: há cerca de 100 milhões de pessoas nessa faixa de baixa renda no país.
CONTEÚDO EM ALTA
O relatório da McKinsey aponta variáveis negativas e positivas ao analisar a economia digital do pais. A nossa conexão é ruim, em média de 13 Mbps – cidades do interior, principalmente de estados do norte do país, têm conexão ainda pior.
A velocidade também está bem abaixo da média global de 31 Mpbs. Atrás, somente as regiões do Oriente Médio e África.
Entre os pontos positivos do estudo, se destaca o alto consumo de conteúdo dos brasileiros na rede.
O país está entre os primeiros no ranking de usuários de redes sociais, como Facebook, Instagram e Whatsapp. Ler notícias online e utilizar ferramentas de busca também é hábito de 54% da população.
Em relação a consumo de vídeo, também nos destacamos. São 7,5 milhões de usuários da Netflix – a plataforma de streaming possui mais assinantes do a operadora de TV paga Net.
No Youtube, são quase 70 milhões de visitantes por mês. O pais possui canais que estão no topo dos mais acessos do mundo, como o de clipes de funk Kondzilla, em 4º posição com 46 milhões de inscritos, e do humorista Whinderson Nunes, em 14º com 34 milhões fãs.
Se o Spotify fosse uma rádio, seria a quinta maior de São Paulo em número de ouvintes, com mais de 13 milhões de usuários.
Em mobilidade digital, o brasileiro também é forte. O Uber possui mais de 20 milhões de usuários e 500 mil motoristas, que realizam mais de 1 bilhão de viagens por ano em mais de 100 cidades.
Somente em São Paulo, o Waze tem mais de 3,8 milhões de usuários, o que confere à cidade liderança mundial.
A febre das entregas rápidas de refeições, potencializada pelo enorme aumento de patinetes e bicicletas nas grandes capitais, fez o iFood crescer 109% em número de pedidos e acumulando US$ 500 milhões em investimentos em 2018.
Outro mercado digital que está decolando é o de games. O Brasil possui mais de 600 milhões de jogadores, ocupando o 3º lugar no ranking mundial. O país tem 375 estúdios de criação, que produziram mais de 1.700 jogos e faturaram US$ 1,3 bilhão apenas em 2018.
VAREJO ONLINE
De acordo com Felipe Almeida, gerente de produtos para a aplicativos do Google, que participou do estudo da McKinsey, os consumidores brasileiros adotaram cedo as novas tecnologias. Como consequência, as varejistas tem tirado vantagem do uso de aplicativos como extensão de suas operações online
“Quando observamos diferentes segmentos de mercado, varejo é o primeiro com maior penetração de aplicativos”, diz Almeida.
Entre 2013 e 2017, o faturamento do e-commerce cresceu de R$ 28,8 bilhões para R$ 47,7 bilhões – alta de 66%. Já o número de compradores aumentou de 31,3 milhões para 55,1 milhões. Eles gastam, em média, R$ 429 por ano.
O cenário positivo se reflete no caixa das empresas que estão inovando no segmento. No ano passado, o lucro líquido do Magazine Luiza cresceu 53,6% e chegou a R$ 597,4 milhões. Há poucos dias, a empresa anunciou a aquisição da Netshoes por US$ 62 milhões.
Embora os números impressionem, há ainda muito campo para desbravar. A penetração do comércio eletrônico no Brasil é de apenas 6%. Na China é 20% e nos Estados Unidos é 12%.
LOGÍSTICA E INFRAESTRUTURA SEGURAM O CRESCIMENTO
A eficiência das empresas brasileiras de e-commerce também passa longe das líderes mundiais.
A B2W, dona da Submarino, Shoptime e Americanas.com, armazena produtos em seu estoque por 87 dias. Ao mesmo tempo, o tempo de armazenamento da Amazon é quase metade, 44 dias.
É importante destacar que quanto menor o tempo de estocagem, mais barato fica a operação da varejista. A relação impacta diretamente no preço final para o consumidor e, consequetemente, no volume de faturamento do segmento.
Quando analisado o tempo de entrega, a B2W leva até 7 dias para transportar os itens para o consumidor. O e-commerce chinês JD.com entrega 90% de seus pedidos em apenas 2 dias, num país com proporção continental semelhante ao Brasil.
Aqui cabe um adendo que justifica a diferença entre a B2W e a JD.com. De acordo com a edição 2018-2019 do relatório Competitividade Brasil, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil é penúltimo num ranking de 18 países com economias similares, como China, África do Sul, Austrália, Canadá, Chile, Coreia do Sul, Espanha, Índia e Turquia.
Atrás de nós no ranking está apenas a Argentina, país que há décadas passa por turbulências econômicas.
O estudo da CNI compara o desempenho dos países em nove fatores que têm impacto sobre a eficiência das empresas. Entre as variáveis, estão: disponibilidade e custo de mão de obra, disponibilidade e custo de capital, infraestrutura e logística, peso dos tributos, ambiente macroeconômico e de negócios, educação e inovação.
Fonte: https://bit.ly/2LriatQ